sexta-feira, 13 de março de 2009

Entrevista com a Directora do CNO ESE/UALG

A primeira edição da Página do CNO ESE/UALG foi publicada no passado dia 6 de Março, na Gazeta de Lagoa. Nesta primera edição falámos com a Directora do Centro de Novas Oportunidades.

Se não teve acesso ao jornal, leia agora:

Os Centos NO regem-se pela Carta de Qualidade, aprovada pela Agência Nacional para a Qualificação (ANQ). Têm como missão encaminhar as pessoas para a realização de processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), para Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) ou para outras ofertas formativas.
O CNO ESE/UALG é actualmente dirigido por Cláudia Luísa, professora da Universidade do Algarve, licenciada em Psicologia e em Educação e Intervenção Comunitária.


Grupo de Prática (GP) – Qual a importância dos Centros Novas Oportunidades?

Cláudia Luísa (CL) – Os Centros de Novas Oportunidades (CNO) representam uma oportunidade para todas as pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, que não concluíram os estudos, mas que sempre sonharam vir a fazê-lo.
O Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências foi criado em 2001, tendo por base alguns pressupostos políticos, nomeadamente, que a escola não é o espaço único e muito menos privilegiado das aprendizagens e desenvolvimento das competências, pois estas podem ser adquiridas em contextos formais e não formais ao longo da vida do indivíduo.
No campo ideológico o sistema de RVCC apresenta-se como uma política inovadora, que reconhece o direito a mais de metade da população Portuguesa ao ensino e à qualificação. Por outro lado consagra uma multiplicidade de espaços de aprendizagem, que vão muito para além da escola, pois o indivíduo aprende e adquire competências em contexto profissional, pessoal, social, etc. Favorece ainda a cidadania porque se funda na autonomia do sujeito enquanto actor das suas experiências e do seu processo de reconhecimento e validação de competências. Está em causa a aquisição de saberes, bem como a criação de condições para o reconhecimento e justiça social, por uma parte das pessoas que não tiveram oportunidade de continuar a estudar.
O processo de RVCC para quem o conhece é um processo com enormes potencialidades e poderes junto da vida das pessoas, pois tem o poder de mudança sobre os actores sociais, implica voltar ao passado, recuperá-lo e reconstruí-lo, sendo esta uma tarefa muito importante em termos de desenvolvimento de cada ser na sua individualidade e consequentemente em grupo. Muitas das pessoas que nos chegam ao centro levaram a vida toda a acreditar que os saberes que tinham não valiam de muito, e quando confrontados com a pergunta: então diga-nos lá o que aprendeu na situação X, muitos referem que não aprenderam nada. Muitos vêem-se como seres oprimidos e tristes, sem objectivos, ao que a sua entrada no processo altera-lhes os sentimentos menos positivos e promove-lhes a confiança. O adulto à medida que vai tomado consciência do seu percurso e das aprendizagens que fez, começa a sentir-se valorizado e a reconhecer que a sua vida afinal foi e é importante, aliás uma série de característica pessoais são neste momento alteradas. Em muitos casos a passagem pelo processo de RVCC é uma experiência de redescoberta do próprio ser.
De acordo com a nossa experiência e para concluir poder-se-á dizer que os CNO’s favorecem a possibilidade de obtenção de um emprego por parte dos adultos desempregados, parecendo promover a aproximação ao mercado de trabalho dos adultos desempregados ou inactivos; beneficia também os adultos empregados, uma vez que se verifica em alguns casos um aumento de rendimentos, promovendo o processo de RVCC ganhos e melhorias na qualidade de vida das pessoas; promove a progressão nas carreiras e facilita a progressão de estudos, pois vão vários os adultos que depois de concluírem o processo decidem continuar a estudar e a aumentar as suas qualificações.

GP – Qual o papel do CNO ESE/UALG na comunidade onde está inserido?

CL – A pertinência deste Centro prende-se com diversos aspectos. De salientar que quando o CNO da ESE/UALG abriu em Janeiro de 2006, fruto de uma parceria privilegiada com a Câmara Municipal de Lagoa, era o único que se encontrava no Barlavento Algarvio, apesar de nos últimos tempos termos presenciado uma crescente abertura de novos CNO, nos concelhos limítrofes. No entanto é importante referir que o CNO da ESE/UALG, foi também um dos primeiros centros, no Barlavento Algarvio, a iniciar a certificação de nível secundário.
O facto de estarmos perante o Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, no Concelho de Lagoa é um investimento na promoção e contribuição para a qualificação da população local, que apresenta baixos índices de escolaridade, bem como uma fonte de informação e divulgação da oferta académica da Universidade do Algarve e de outras entidades regionais.

GP – Que projectos pretende o CNO ESE/UALG vir a desenvolver?

CL – O Centro irá continuar a assegurar a qualificação da população local, fazendo o reconhecimento, a validação e certificação de competências de nível básico e secundário a todos os adultos que nos procurem. Pretendemos ainda dinamizar o centro com algumas actividades de carácter informático, cultural e educativo que possam ser uma mais valia para a população do concelho de Lagoa. Outros projectos poderão vir a ser dinamizados no futuro na área da educação de adultos, sobre os quais neste momento estamos a trabalhar e que em breve serão divulgados.

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