quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aprendemos com a Vida…Percebemo-lo no Processo RVCC

Depoimento da Coordenadora do CNO, Ana Cordas, publicado na Gazeta de Lagoa


"Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes." Paulo Freire

A frase que introduzo, mostra o que pretendo transmitir sobre o Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências. O Verdadeiro Processo RVCC, é sem dúvida algo de extraordinário que pretende reconhecer a individualidade de cada pessoa, com base nas competências adquiridas ao longo do seu percurso de vida, como tal, não é em vão que trabalhamos com a história de vida de casa indivíduo.
Deste modo, e explicitando as etapas fundamentais do Processo RVCC procuro dar conhecer a essência e a importância dos Processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, na vida dos indivíduos.
O Reconhecimento é a fase que, consiste na identificação, por parte do adulto, dos saberes e competências adquiridos ao longo da vida, através de um conjunto de actividades assentes na metodologia de balanço de competências e na utilização de instrumentos, diversificados, que permitem ao adulto confrontar a própria experiência com o referencial de competências chave e evidenciar as aprendizagens anteriormente adquiridas. Aprendizagens estas, obtidas em diversos contextos, formais, não formais e informais, nomeadamente através de experiências/vivências em contexto profissional, formativo, pessoal, familiar, associativo, entre outros.
É de salientar, aqui, estas questões ligadas às aprendizagens formais, não formais e informais, pois reforçam a potencialidade da aprendizagem ao longo da vida e canonizam uma pluralidade de espaços de aprendizagens, que vão para além da escola formal. No Processo RVCC, o adulto reconhece a sua história de vida/autobiografia como algo que lhe trouxe competências, a diversos níveis, nomeadamente: profissionais, escolares, formativas, sociais, entre outras. Isto porque, cada pessoa é o que é hoje através daquilo que foi o seu percurso de vida, a sua história de vida.
Nesta fase, de reconhecimento, o adulto inicia a construção do PRA (Portefólio Reflexivo de Aprendizagens), um documento que se articula e decorre da fase de balanço de competências. Pode-se considerar como uma compilação de documentos de várias naturezas, como por exemplo fotografias, contratos de trabalho, certificados, diplomas, documentos comprovativos da experiência profissional, social, entre os mais diversos, de acordo com a vivência de cada adulto, dado que, se pretende que seja único e individualizado. O portefólio procura retratar/documentar a aprendizagem e o percurso de aquisição de competências de cada adulto. Poderíamos descrevê-lo através de algumas palavras-chave: compilar, seleccionar, coleccionar, reflectir, relacionar, procurar, memória, descoberta, redescoberta…
A fase de Reconhecimento é das mais gratificantes de todo este processo de descoberta, senão redescoberta de cada adulto, enquanto actor do mesmo, pois através da abordagem autobiográfica reforçam-se as potencialidades de cada indivíduo, fá-los acreditar em si próprios e na mudança, o que consequentemente promove a auto-confiança e leva a que sejam traçados projectos futuros, pois os adultos ao estarem mais conscientes daquilo que são capazes fazem-no transparecer ao “olhar” para o futuro, seja ele a curto, médio ou longo prazo, com um objectivo, nunca anteriormente considerado.
A Validação de competências é o momento que se segue, e consiste na avaliação das competências e na confrontação das evidências apresentadas, pelo adulto, em correspondência com o referencial de competências chave. Como o próprio nome indica, consiste no momento de validar as competências evidenciadas pelo adulto, em conformidade com o referencial. Este momento é efectuado em conjunto com o profissional de RVC e os formadores das respectivas áreas, que acompanham o adulto. Nesta fase, podem ser identificadas necessidades de formação, para as quais o adulto será encaminhado. Estas necessidades podem ser colmatadas pelos formadores do Centro, desde que não ultrapassem as 50h de formação para cada adulto, designadas de formação complementar. Caso sejam necessárias mais do que as 50h, será definido um percurso formativo, específico, exterior ao Centro Novas Oportunidades, e o adulto será encaminhado, de forma a concretizar o seu percurso e até mesmo os seus projectos futuros.
Para que estes encaminhamentos sejam exequíveis e vão ao encontro das reais necessidades dos adultos, o Centro Novas Oportunidades, estabelece parcerias com diversas entidades de formação, bem como Escolas Básicas e Secundárias da região Algarvia, fomentando a importância do trabalho em rede.
A Certificação de competências, que culmina com uma sessão de Júri, onde o adulto obtém a certificação sempre que lhe é reconhecido, ter adquirido as competências em conformidade com o referencial de competências chave. Assim, percebe-se, o verdadeiro significado das siglas RVCC, Reconhecimento, Validação e finalmente a Certificação das Competências.
A Sessão de Júri é pública e é constituída pelo Profissional de RVC e pelos formadores das respectivas áreas de competência, que acompanharam o adulto durante todo o seu percurso no Processo de Reconhecimento e Validação de Competências, bem como por um elemento externo ao Centro Novas Oportunidades, designado de Avaliador Externo.
O Avaliador Externo é alguém que através de uma candidatura formalizada, e após análise da mesma é acreditado pela entidade que tutela os Centros Novas Oportunidades, a ANQ (Agência Nacional para a Qualificação).
A certificação permite a obtenção de um nível de escolaridade ou de qualificação que confere, neste caso, um certificado de qualificação e, sempre que se obtém um nível de escolaridade concede a emissão de um diploma de qualificação.
Em jeito de conclusão, gostaria, ainda, de partilhar com os leitores um poema que reflecte o que acima descrevi, bem como deixar um incentivo para não desistirem dos vossos sonhos. Nunca é tarde para aprender, nunca é tarde para percebermos o quão bonita é a nossa história de vida e o quanto aprendemos com ela!

Ana Cordas

Experiência de vida num soneto

Nasci aqui, de onde me vejo,
Cresci amargo, curvado pelo trabalho,
De onde me conheço, e transpareço
A pessoa que sou, e que antevejo

Futuro ausente, fizeste-me crer
Histórias de vida, me fizeste lembrar,
E hoje vou recordar, e realizar
Um sonho de vida, que pensava não erguer.

Enquanto Actor desta vida, Sonhei
Contar um dia a minha experiência
Ser quem Eu sou, sentir o que Sei

E fizeram de mim um Rei
Com o produto da minha vivência
De Ser o que Sou, e de saber o que Sei.

Nuno Cordas

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